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Da Rosa Cósmica de Khunrath - Primeira Parte

Longe da pretensão de dizer um algo inédito acerca do tema, e muito menos alcançar a profundidade e eloquência de mestres passados que já decorreram de modo quase definitivo acerca do assunto, como Stanislas de Guaita, achamos, ainda assim, de interesse a divulgação dos temas clássicos que apesar de figurarem nos curriculos da rosacruz, acabam ficando de lado especialmente, em lingua portuguesa. 

 Motivamos por esta decodificação da reforma da cosmovisão, proposta pelo rosacrucianismo, através das obras clássicas, analisaremos no presente o Emblema intitulado “Rosa Cósmica” de autoria Heinrich Khunrath (1560-1605), autor de extrema importância na construção do pensamento rosacruz clássico. Lembremos que este tipo de figura visual intitulada "emblema" foi amplamente utilizada em certas Ordens Católicas e posteriormente nos movimentos protestantes clássicos, como luteranismo que influenciou fortemente o rosacrucianismo alemão, sendo constituídos por imagens que se comunicam com um texto e juntos transmitem determinada mensagem, neste particular, recomendamos a leitura de "The Emblem" de John Manning um clássico no tema. É neste contexto de "análise de emblema" que nos esforçaremos em contribuir de algum modo na descrição e análise da "Rosa Cósmica", que por conta da extensão, será realizada em partes. 

Seguindo a lógica de Carl G. Jung na análise de mandalas, imagens do eu, começaremos pela figura central, a que se reduzirá esta primeira parte da análise, o ponto zero da emanação dos conceitos ali contidos sob a figura de um Sol, núcleo do emblema (vide figura). Este Sol é a temática central, onde figura Crestos, na postura de crucificação, mas sem a presença da cruz, portanto ressurreto (Reconciliado). O centro do Sol, que evoca à Tiphereth (Símbolo da Reintegração) possui três estágios de Luz, no primeiro e mais central destes vemos inscrito a divisa: “Verdadeiramente Filho de Deus” (Vere Filius Dei Ipse). No segundo estágio da Luz Solar temos a divisa de Constantino, símbolo da vitória e hegemonia do Cristianismo em Roma, mas aqui evocando a vitória da Cruz em seu sentido esotérico: “Sob este símbolo conquistarás” (In Hoc Signo Vinces). De modo muito sutil os pés de Crestos repousam sobre a cabeça de uma fênix que ascende (a Via Qabalistica de Retorno à Casa do Pai, à Coroa) rumo à Kether. 
No terceiro e último estágio da Luz Solar, que já não possui o formato circular idêntico ao Sol, ganha contorno de raios que ao se emanarem do centro formam um pentagrama, em cada ponta figurando uma das letras do Tetragamaton somada à Schin (descida do Espírito Santo). Nesta fórmula YHVH (Jeová) é manifesto no Pentagramaton YHShVH (Jeshua). Nos raios menores, intercalados, vemos dispostos os nomes 10 Santos Nomes de Deus (Ehieh, Yah, YHVH, El, Elohim Gibor, Eloah, YHVH Sabaoth, Elohim Sabaoth, Shaddai e Adonai Melekh, associados aos dez frutos da Arvore da Vida) que simbolizam aspectos da manifestação de Deus e que orbitam, como todo o conjunto, à Crestos. Isso nos remete à visão “tipherethcêntrica” do rosacrucianismo, tendo em vista que vemos uma Árvore da Vida com protagonismo de Tiphereth, o que nos parece óbvio tendo em vista que tal esfera representa a Operação Rosa+Cruz, as Bodas Alquímicas, a União Mística com o Santo (Anjo). Tal Operação parece estar, portanto, centralizada na figura de Crestos, lembrando que o conceito de Unio Mystica já está presente no judaísmo e mesmo no cristianismo primitivo. No próximo texto trataremos de prosseguir na análise rumo ao primeiro Arco de Nuvens que emoldura o Crestos Solar.
Frater AEL .'. R+C S.I. א

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